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Contrato de reunificação

Note: For translations, please go in the specific page above called “Translation-Übersetzung” (under the blog’s title). 😉

You can read an article in English about this theme in Deutsche Welle’s website.

Memória: há exatos 20 anos, em 31 de agosto de 1990, a República Federal da Alemanha (RFA) – a Alemanha Ocidental – e a República Democrática da Alemanha (RDA) – a Alemanha Oriental – assinaram o acordo que criou a reunificação alemã, chamado de “Vertrag über die Herstellung der Einheit Deutschlands“.

Ainda hoje há algumas controvérsias em relação a esse fato: foi uma real unificação ou apenas uma anexação?

Na assinatura do Tratado de Reunificação, em 31 de agosto de 1990 em Berlim, o então ministro alemão do Interior, Wolfgang Schäuble, e Günther Krause, o representante alemão-oriental, deixaram transparecer o quanto haviam sido difíceis as negociações para a reunificação do país.

Após meses de trabalho, estava pronto o mais importante documento da Alemanha pós-guerra. O Tratado de Reunificação estabeleceu de que modo os dois Estados alemães passariam a existir como um só país a partir de 3 de outubro de 1990. (…)

Continue lendo esse artigo na Deutsche Welle.

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A caminho da reunificação

“Almost reunited” – English version below.

“Há 20 anos, Parlamento da RDA aprovava adesão a Alemanha Ocidental.

Na madrugada de 23 de agosto de 1990, após quatro décadas de divisão, o Parlamento da Alemanha Oriental (Volkskammer) aprovou a adesão do país à República Federal da Alemanha, marcada então para o dia 3 de outubro de 1990.

“O Parlamento acaba de decidir nada mais nada menos que o fim da RDA no dia 3 de outubro de 1990″, afirmou na ocasião Gregor Gysi, então líder da bancada do PDS (Partido do Socialismo Democrático, sucessor do SED, partido majoritário do regime comunista alemão).

A declaração de Gysi era um lamento pelo fim da Alemanha Oriental. Interrompida pelos aplausos dos outros deputados, que celebravam justamente aquilo que o colega lamentava, a frase acabou ganhando um inesperado caráter cômico. (…)”

Continue lendo a notícia no site da Deutsche Welle.

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“20 years ago the GDR Parliament voted to join the Federal Republic.

After a night-long discussion, that ended in the early hours of Aug. 23, 1990, the decision was made for the German Democratic Republic (GDR) to be absorbed into the Federal Republic of Germany (FRG).

At a special session of the East German parliament, the Volkskammer, the representatives voted to merge with the West.

Instead of a brand new constitution to cover the new unified state, it was decided to just incorporate the GDR under the existing constitution. The former East was incorporated into the West under Article 23 of the Federal Republic’s Basic Law. (…)”

Keep reading it in the Deutche Welle’s site.

Ute e Bernd (português)

Em decorrência dos 20 anos da queda do muro de Berlim, eu preparei  algumas entrevistas com pessoas que viveram na RDA. Elas deram suas opiniões bastante pessoais para o blogue.

Nos especiais jornalísticos que tenho visto sobre essa data histórica, muita gente se concentrou em Berlim – não sem razão. Mas eu quis fugir um pouco disso, já que a RDA ia mais além da Berlim Oriental.

Essa mudança de rumos chamada em alemão de Wende, é um tema que vai continuar sendo discutido. E eu fico muito feliz em trazer a vocês, leitores e visitantes do Memórias do Muro, as opiniões das testemunhas da História.

Ute & Bernd 2009

Ute und Bernd O., 2009. Foto: arquivo pessoal

Aqui segue uma entrevista que fiz por e-mail com Ute e Bernd O. Os dois nasceram na cidade de Erfurt, capital do estado da Turíngia. Ela tem 45 anos e é auxiliar de enfermagem. Ele tem 54 anos e é vendedor.

MEMÓRIAS DO MURO – Quais são as lembranças de vocês dos tempos da RDA?

BERND – aspectos positivos: Jardins de infância e localização das escolas;  Espírito de coletividade, família e escolas; Jogos e colônias de férias; muitas atividades sociais; Jogos mundias da juventudo em Berlim; Associações de Futebol a partir de 7 anos de idade até a escola de esportes; formação de ensino à distância em economia de processamento de  dados, entre outras coisas.

UTE – aspectos positivos: Escola, ocupações durante o tempo livre, aulas até o oitavo ano escolar.

UTE e BERND – Aspectos negativos: poucas frutas; muitas restrições para viagens; muitos órgãos controladores; o chefe sabia quase tudo sobre a vida profissional e privada da família (dos trabalhadores); ordem das decisões a serem tomadas; registro para obter um carro; se alguém quisesse alcançar um objetivo privado, algumas condições eram  impostas, por exemplo adesão ao partido político.

MDM – Onde estavam em 09 de novembro de 1989? Chegaram a celebrar? O que pensaram e sentiram sobre a queda do muro? Participaram de algum protesto contra a RDA?

UTE e BERND – Nós estávamos em casa, já que a nossa filha só tinha 15 meses de idade. Nós vimos todos celebrarem e sentimos uma sensação estranha. Pensamos se aquilo não seria bom!? (…) Uma vez nós fomos a uma marcha silenciosa e caminhamos por algum tempo com as pessoas. Era uma atmosfesra tensa, que poderia mudar de rumos a qualquer momento. Com esposa e carrinho de bebê era muito arriscado (fazer parte de protestos).

MDM – Vocês tiveram dificuldades em se acostumar ao “novo país”?

UTE e BERND – A permanente conversão dos preços de uma moeda para outra; as situações de empresa, moradia, trabalho, tempo livre, compras e a incerteza constante se a família iria seguir bem: todos esses fatores provocaram certo estresse. Era necessário controlar as coisas muito rapidamente. Nós podemos dizer que ambos conseguimos encontrar rapidamente um novo trabalho em outras empresas. A movimentação autônoma na sociedade, seja no socialismo ou no capitalismo, não foi difícil para nós.

MDM – Há algo daquela época de que vocês sintam falta?

UTE e BERND – Sim, nós sentimos falta da vida comum em sociedade com amigos e conhecidos. Agora todos são criados de maneira muito egoísta  e são forçados a agir dessa forma. O Estado RDA pensava mais na sociedade.

MDM – 20 anos depois da queda do muro de Berlim. O que vocês pensam sobre a transição?

UTE e BERND – O sistema socialista/comunista se equipara, de alguma maneira, ao capitalismo. A política é idêntica; o homem pequeno será explorado e oprimido. E há também uma liberdade controlada. A transição trouxe a liberdade para fazer viagens, mas somente se você tem os recursos financeiros para isso. A pobreza e o desemprego crescem continuamente.

Ao Estado interessa apenas a própria segurança financeira e há menos interesse nos indivíduos da sociedade. O Estado de hoje não tem leis claras e concretas, mas somente aquelas que podem ser transformadas para que o Estado permaneça em vantagem.

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Museu “Olle DDR” em Auerstedt, na Turíngia.

MDM – O que você pensa sobre a “Ostalgia” dos dias atuais (Ostalgie é um termo em alemão utilizado na antiga região da RDA  e que significa ‘nostalgia do leste’)?

BERND – Eu promovo a Ostalgia. Todos os meus objetos especiais da então RDA estão em um museu na cidade de Auerstedt (no estado da Turíngia). Lá estão certificados de condecorações pessoais, flâmulas esportivas, uma câmera fotográfica antiga, um telefone, rádio, chaleira, geladeira, cômoda, artigos de escritório e outras coisas mais.

MDM – Na opinião de vocês, quais são as maiores diferenças entre o Leste e o Oeste alemão que ainda existem?

UTE e BERND – uma pessoa do Oeste nunca vai deixar de pensar à maneira ocidental. Uma pessoa do Leste pensa de um jeito mais alemão, já que em muitos casos essa pessoa trabalha para uma empresa do Oeste e continua morando no Leste.

Uma pessoa do Oeste não pode entender a sociedade da RDA, já que ela não sabe a verdade. (…) Com relação aos pagamentos ainda há em muitos setores, salários diferentes para o mesmo trabalho. Para o Oeste sempre haverá uma pessoa do Leste e uma Alemanha Oriental, já que eles se  visualizam sempre como vitoriosos e donos do dinheiro.

MDM – Há alguma história pessoal que você tenha vivido na RDA e que possa compartilhar com o blogue?

BERND – Nos meus dossiês* havia uma cópia de uma carta que enviei a um amigo meu, que havia deixado a RDA de maneira ilegal antes de 1989.

À época vieram até mim uns funcionários da STASI e me perguntaram sobre a fuga do meu amigo da RDA. Ele precisou ficar por alguns meses na cadeia até que a sua solicitação de viagem saísse.

Quando ele chegou na RFA, me escreveu uma carta contando onde estava e o que andava fazendo. ´Toda essa correspondência foi copiada pela STASI e colocada nos meus dossiês.

Atualmente esse amigo e eu nos encontramos a cada dois anos e conversamos sobre os velhos tempos.

*Nota da autora: após a unificação das Alemanhas, os arquivos da Polícia Secreta da Alemanha Oriental, STASI, foram abertos ao público. Muitas pessoas descobriram que eram espionadas através do acesso aos seus dossiês pessoais. Nas próximas semanas, aqui no blogue, uma entrevista exclusiva com uma pessoa contando sua experiência com a STASI.

Enquanto isso…

… muitas discussões surgindo ali e acolá. Temas como Reunificação, Democracia e União são recorrentes por aqui. Ainda mais em um ano tão especial como 2009, quando se celebram os 60 anos da República Federal da Alemanha e também os 20 anos da queda do muro de Berlim.

Percebo em fóruns e debates de TV que ainda há um longo caminho a ser trilhado pelo povo alemão, no que se refere à unificação de duas (ou mais) mentalidades dentro de um mesmo país. Há os que se alegram pela democracia atual, mas há também os que reclamam dos problemas sociais, como o alto índice de desemprego.

Muitos que viveram na RDA, dizem que na vida de então havia menos liberdades, mas são categóricos em afirmar que quase toda a população tinha trabalho. Hoje em dia, muitos se dizem esmagados por  um sistema instável e inseguro, ainda que mais democrático.

Não é de se espantar, portanto, que  tenha aumentado o índice de pessoas que NÃO compareceram às últimas eleições federais no último mês de setembro. Na Alemanha, o ato de votar é opcional. Frustração, descrédito nos políticos, crise, desemprego. Muitos são os motivos alegados por aqueles que não foram às urnas.

Resta então, a esperança no futuro. Imagino que as reflexões provocadas pelos 20 anos da queda do muro cheguem até os jovens alemães. O grande desafio, na minha opinião, é  encontrar eco em uma camada da população que não viveu essa História além dos livros escolares. E que nasceu sob o teto de uma nação já reunificada, tendo outros anseios e uma distinta percepção da realidade.

O muro caiu, mas a sensação é que ainda há muito o que se discutir sobre o assunto. Nos debates públicos vão curando-se algumas feridas abertas. Afinal, a democracia também serve para isso.