Category Archives: Mosaico de Memórias / Memories Mosaic

Olhando para trás

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Um aspecto da RDA observado sob o ponto de vista atual, me deixa especialmente curiosa: como os alemães orientais lidam com o fato de que o país de sua infância, literalmente, já não existe mais? Muito do que se aprendeu  naquela época como sendo “certo”, desapareceu com o tempo.

Abaixo as lembranças de Lars dos Santos Drawert que nasceu em uma pequena cidade próxima a Dresden, capital da Saxônia. Ele é o grande responsável pelo fato de eu poder escrever pra vocês diretamente daqui. 🙂

Quando o muro caiu em 1989, eu tinha 13 anos e naturalmente não pude entender  muito bem o que acontecia naquele momento.

Eu lembro muito pouco dos acontecimentos concretos daqueles dias. A maior parte do que sei, aprendi nos anos seguintes através de leituras ou de relatos de familiares, amigos e conhecidos. Apesar disso, as emoções fortes e incríveis daqueles meses vivem em mim como grandes animais adormecidos.

Imagens das demonstrações de Segunda-Feira em Leipzig ou da queda do muro em Berlim, surtem exatamente o mesmo efeito poderoso que antes e me tiram o ar de imediato, além de acelerar as batidas do meu coração. Os sentimentos fortes que surgem de repente, quase do nada, só me provam que eu vivi tudo aquilo, só que sob o olhar infantil.

Esses acontecimentos dividem a minha vida em duas partes: o antes e o depois. Não tanto em um sentido lógico ou abstrato, mas sim em um senso diretamente ligado às emoções. O passado – ou seja, a infância – está em uma terra distante que já não existe mais. O  que passou está separado de mim, como se uma cortina semi-transparente,  pintada com imagens revolucionárias, estivesse entre o passado e o presente. Mas no fim das contas, o passado também faz parte da minha vida.

No entanto, algo dos anos na escola socialista permaneceu na memória. Muitas coisas legais, sobretudo as experiências comunitárias, infelizmente ainda estão ligadas ao que sei hoje: que a pureza e a inocência das crianças foram usadas em prol do ensino socialista.

Uma estrutura fundamental semi-militar que chegava até as salas de aula, o que se traduzia em divisão clara de funções (líder de classe, vice-líder, etc.), formação periódica dos grupos em posição de sentido e com uniformes de pioneiros-mirins, medalhas e elogios para os que fossem obedientes e  estudiosos ou repreensão e às vezes até advertências públicas para os que cometessem algum erro. Se contempladas hoje, muitas lembranças de fato bonitas e multifacetadas dos tempos de escola, têm um sabor amargo estranho.

O tempo depois da queda do muro também foi uma experiência marcante. De repente, os cartazes da propaganda socialista desapareceram das paredes destruídas dos edifícios e foram, pouco a pouco, substituídos por publicidade de carros ou máquinas de barbear.

Em matérias como estudos sociais, por exemplo, as perspectivas mudaram dentro de pouco tempo. O que ainda era válido, de pronto passou a ser inválido. O ruim virou bom e vice-versa. De repente passou-se a olhar para a História sob um ponto de vista completamente distinto.

Em parte, os novos enfoques foram transmitidos durante alguns meses pelos mesmos professores, os quais haviam ditado  um texto a respeito do triunfo do Socialismo sobre o Capitalismo um pouco antes  da mudança de rumos no país – tudo meio estranho para uma pessoa tão jovem.  Nessa fase, provavelmente muitas pessoas devem ter vivenciado o que significa relatividade ou também qual a diferença entre realidade e interpretação.

Um pouco mais tarde, bares improvisados foram erguidos em muitos lugares. Bandas, galerias ou revistas pequenas foram criadas. Em todos os lugares se podia notar  movimento, florescimento de ideias, alegria de viver e otimismo. A sensação de efetivamente ser alguém e poder mudar alguma coisa foi compartilhada pela maioria, assim como entre nós, jovens estudantes.

Juntos, criamos grupos de interesses comuns, fundamos um jornal escolar crítico e xingamos os carrões da  Mercedes.  A memória da energia desse tempo logo após a mudança, sobrevive em mim como uma saudade. Algumas desilusões, o entendimento da nova realidade e o difícil processo de integração que vieram depois, foram talvez tão dolorosos, porque os contrastes entre as emoções diversas (prisão, libertação, esperança e algumas decepções) eram muito fortes.

O que ficou em mim foi uma saudade crônica dos primeiros anos depois de 1989, uma saudade dessa energia e da inocência maravilhosa da juventude.  Em paralelo a algumas dificuldades no “novo país”, ficou também em mim uma  profunda gratidão a todos aqueles que tornaram possível essa mudança radical.

Onde eu estaria hoje se a transição não tivesse ocorrido ou quem eu poderia ter me tornado naquela ditadura socialista, eu realmente nem quero saber.

Blicke rückwärts

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Eine Sache der DDR-Zeiten macht mich neugierig: wie kann man heutezutag mit der Tatsache umgehen, dass das Land seiner Kindheit nicht mehr existiert? Vieles, was man als “richtig” gelernt hat,  ist mit der Zeit verschwunden.

Jetzt die Erinnerungen von Lars dos Santos Drawert, der bei Dresden geboren ist. Er ist  auch der grosse Verantwortliche, dass ich euch von hier schreiben kann. 🙂

Als 1989 die Mauer fiel war ich gerade mal 13 Jahre alt und verstand natürlich noch nicht so recht, was da gerade passierte.

An die konkreten Ereignisse in diesen Tagen erinnere ich mich kaum. Das Meiste habe ich erst in den Jahren danach von meiner Familie, von Freunden und Bekannten erfahren oder habe es nachgelesen. Trotzdem wohnen die unglaublich starken Emotionen dieser Monate in mir wie große schlafende Tiere. Bilder von den Montagsdemonstrationen in Leipzig oder dem Mauerfall in Berlin wirken nachwievor so stark auf mich, dass mir unmittelbar die Luft wegbleibt und mein Puls in die Höhe schnellt. Die starken Gefühle, die dann so plötzlich wie aus dem Nichts hochkommen, beweisen mir dann, dass ich das alles, wenn auch aus einer kindlichen Perspektive heraus, erlebt habe.

Dieses Ereignis teilt mein Leben in zwei Teile: dem Vorher und dem Nachher. Nicht so sehr im logischen oder abstrakten Sinn, sondern ganz unmittelbar im eigenen Empfinden. Die Vergangenheit, die Kindheit liegt in einem fernen Land, daß nicht mehr existiert. Sie ist wie durch einen halbdurchsichtigen, mit Revolutionsbildern bemalten Vorhang abgetrennt und doch, natürlich, gehört sie zu mir.

Aus den Jahren in der sozialistischen Schule ist dennoch einiges im Gedächtnis geblieben. Viele schöne, vor allem gemeinschaftliche Erfahrungen sind aber leider immer wieder gekoppelt mit dem Wissen, dass die Unschuld und Naivität der Kinder für die sozialistische Erziehung benutzt wurde. Eine halbmilitärische Grundstruktur bis in die Schulklassen hinein hat es ebenso gegeben wie das Verteilen von Funktionen (Gruppenratsvorsitzender, Stellvertreter etc.), regelmässige Appelle in Formation und Pionieruniform, Medaillen und Lob bei fleissigem und gehorsamen Lernen oder Tadel und teilweise sogar öffentliches Bloßstellen bei Fehlverhalten. Von heute aus betrachtet haben daher viele Erinnerungen an die eigentlich schöne und sehr vielseitige Schulzeit einen ziemlich bitteren Beigeschmack.

Die Zeit nach dem Mauerfall war eine ebenso prägende Erfahrung. Plötzlich verschwanden die sozialistischen Werbeplakate von den kaputten Hauswänden und wurden nach und nach durch Produktwerbung von Autos oder Rasierapparaten ersetzt. In Schulfächern wie z.B. Gesellschaftskunde änderten sich innerhalb kürzester Zeit die Vorzeichen. Was eben noch gültig war, wurde plötzlich ungültig. Aus schlecht wurde gut und umgekehrt. Auf die Geschichte schaute man plötzlich aus einer völlig anderen Richtung. Zum Teil wurden sogar die neuen Sichtweisen noch einige Monate von den selben Lehrern vermittelt, die mir kurz zuvor noch einen Text vom Sieg des Sozialismus über den Kapitalismus diktiert hatten – schon merkwürdig für einen jungen Menschen. In dieser Phase haben wahrscheinlich viele erfahren was Relativität bedeutet oder auch was der Unterschied ist zwischen Wirklichkeit und Interpretation.

Etwas später schossen vielerorts improvisierte Bars aus dem Boden. Es gründeten sich Bands, Galerien oder kleine Magazine. Überall war Bewegung, Erblühen, Lebensfreude und Optimismus. Das Gefühl, tatsächlich jemand zu sein und etwas verändern zu können teilten wohl die meisten und auch wir jungendlichen Schüler miteinander. Wir schlossen uns zu Interessengemeinschaften zusammen, gründeten eine kritische Schülerzeitung und schimpften gegen Autos von Mercedes.

Die Erinnerung an diese Energie lebt in mir als Sehnsucht fort. Die späteren Ernüchterungen, Einsichten und schwierigen Lernprozesse waren, jedenfalls teilweise, vielleicht auch deshalb so schmerzhaft, weil die Kontraste zwischen den verschiedenen Emotionen: Unfreiheit, Befreiung, Hoffnung und Dämpfung so stark waren.

Was für mich bleibt ist eine ständige Sehnsucht nach den ersten Jahren nach 1989, eine Sehnsucht nach dieser Energie und der wunderbaren jugendlichen Naivität, aber auch, bei allen Schwierigkeiten im „neuen Land“, eine tiefe Dankbarkeit den Menschen gegenüber, die diesen Umbruch möglich gemacht haben.

Wo ich heute ohne die Wendeereignisse wäre  bzw. wer ich in dieser sozialistischen Diktatur überhaupt hätte werden können, möchte ich wirklich nicht wissen.

Lembranças da notícia chegando a Cuba

Texto do escritor e diretor de cinema Raydel Araoz, feito especialmente para o Memórias do Muro.

Ia terminar o ensino médio, depois fazer o pré (vestibular) e em seguida iria estudar na União Soviética. Assim era o meu mundo aos 15 anos. Uma linha reta em direção a um futuro definido pelo sonho de uma família revolucionária, de “classe média cubana”, se é que existe essa denominação.

Nesses dias, caminhando pelos corredores da minha escola,  um convento de monjas desapropriado no início da revolução, escutei o rumor entre os professores sobre uma greve.

Era uma notícia incompreensível. O socialismo não tinha greves, nem crise econômica e tampouco desemprego. E os mesmos professores que tinham nos ensinado isso nas aulas de fundamentos do marxismo e História contemporânea, falavam agora dessa greve.

Os rumores cresceram nos corredores, passando de professores para alunos, como uma notícia confusa de forma retangular. Se criavam grupos, discussões, se falava de quem era melhor: os americanos ou os russos. Se falava de traição. Alguém disse: proibiram a revista Sputnik.

Em casa procurei na coleção que o meu pai tinha da Sputnik. Nos seus últimos números deixou de ser a revista do ursinho Misha e do progresso de Moscou, para mostrar outra história da União Soviética, a do ditador Stálin. O dique começava a ceder às nossas costas e em silêncio.

A escola terminou assim como começou: prometendo uma terra prometida, a dos manuais. No entanto, naquele verão o julgamento do General Ochoa por tráfico de drogas comoveu o país inteiro. Até então, acreditávamos que o tema das drogas era algo alheio a Cuba, ainda mais no Exército. O impacto do julgamento encobriu as notícias internacionais desse ano.

Meses depois, o muro de Berlim caiu, mas esse estrondo chegou debilitado a Cuba. A uma Cuba que encarava o bloco socialista como eterno e continuava adiando o capitalismo.

Assim, quando eu realmente fui me dar conta do que siginificava a queda do muro de Berlim, esse fato tinha virado História e o período especial entrava pela porta da minha casa.

Então, na escuridão do apagão, ainda com espíriro romântico, nos perguntávamos: ” o que vai acontecer agora com a Alemanha?” “o que acontecerá com a União Soviética?”.

Recuerdos de la noticia llegando a Cuba

Texto del escritor y director de cine Raydel Araoz, hecho especialmente para “Memorias del Muro”.

Iba a terminar la secundaría básica, luego hacer el pre y estudiar en la Unión Soviética. Así era mi mundo a los 15 años, una línea recta hacia un futuro definido en el sueño de una familia revolucionaria, de “clase media cubana”, si existe esa denominación.

En esos días caminando por los pasillos de mi escuela, un convento de monjas expropiado a principio de la revolución, escuché el rumor entre los profesores de una huelga en los países socialistas.

Era una noticia incomprensible, el socialismo no tenía huelgas, ni crisis económica, ni desempleo. Y eran los mismos profesores que nos habían enseñado eso, en las clases de fundamentos del marxismo e historia contemporánea, los que hablaban de la huelga.

El rumor creció a nivel de pasillo, pasando de los profesores a los alumnos como una noticia confusa de forma rectangular. Se creaban grupos, discusiones, se hablaba de quienes eran mejor si los americanos o los rusos, se hablaba de traición. Alguien dijo: prohibieron la revista Sputnik.

En la casa revisé la colección que mi padre tenía de Sputnik. En sus últimos números dejó de ser la revista del osito Misha y del progreso de Moscú, para mostrar otra historia de la Unión Soviética, la del dictador Stalin. El dique comenzaba a ceder a nuestras espaldas y en silencio.

La escuela terminó como empezó, predicando una tierra prometida, la de los manuales. Sin embargo ese verano el juicio al General Ochoa por tráfico de drogas conmocionó  a todo el país. Hasta entonces creíamos que (el tema de) las drogas era algo ajeno a Cuba, y más aún al ejército. El impacto del juicio nubló las noticias internacionales de en ese año.

Meses después cayó el muro (de Berlin) pero su estruendo llegó debilitado a Cuba. A una Cuba que suponía que suponía que el campo socialista era eterno y se extendía desplazando al capitalismo.

Así que cuando supe a ciencia cierta que significaba la caída del muro de Berlín, ya el hecho era historia y el periodo especial entraba por la puerta de mi casa.

Entonces en la oscuridad del apagón, aun con espíritu romántico, nos preguntábamos: “¿qué pasará ahora con Alemania?,” “¿qué pasará ahora con la Unión Soviética?”.

Enrico (português)

Aqui uma entrevista com Enrico Gwinner. Ele nasceu em 1966 na província de Eisenhüttenstadt próxima a Frankfurt Oder, no estado de Brandemburgo. Enrico trabalha como eletrotécnico.

MEMÓRIAS DO MURO – Quais são as suas lembranças dos tempos da RDA?

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Enrico (esquerda) como DJ na RDA. Foto: arquivo pessoal.

ENRICO – uma infância serena e despreocupada; a vida não era tão agitada, tudo era mais devagar, tranquilo, honesto; uma juventude feliz com companheiros, ida a shows, acampamentos; as coisas não eram tão complexas e burguesas como hoje; 3 anos de serviços prestados à Marinha; sonhos do mundo distante; (lembro de) estar por aí viajando como DJ.

MDM – Onde você estava em 09 de novembro de 1989? Chegou a celebrar? O que pensou e sentiu sobre a queda do muro? Participou de algum protesto contra a RDA?

E – eu estava em casa e por acaso, vi a transmissão ao vivo da coletiva dada por Schabowski; era difícil acreditar naquilo; nós fomos direto no dia 11 de novembro para a Berlim ocidental; eu pensei “ah, vamos ver como as coisas na RDA vão continuar  – tudo ficará melhor”.

MDM – Você teve dificuldades em se acostumar ao “novo país”?

E – foi preciso cuidar de tudo sozinho de uma só vez; cada dia acontecia algo novo, insólito; o tempo passava tão depressa e era emocionante.

MDM – Há algo da época da RDA de que você sinta falta?

E – A sensação de pertencer a um grupo.

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Enrico com sua esposa Simone na Escócia. Foto: arquivo pessoal.

MDM – 20 anos depois da queda do muro de Berlim. O que você pensa sobre essa transição?

E – para mim, pessoalmente, essa transição veio no momento certo; ela foi necessária se não a RDA teria desmoronado como um castelo de cartas (…); eu jamais poderia ter estudado com mais de trinta anos; eu não teria conhecido o meu grande amor, a Escócia; eu fico chateado  com as injustiças contra os antigos cidadãos da RDA, quando as pessoas da antiga RFA se acham no direito de nos julgar.

MDM – O que você pensa sobre a “Ostalgia” dos dias atuais (Ostalgie é um termo em alemão utilizado na antiga região da RDA  e que significa ‘nostalgia do leste’)?

E – é importante reconhecer suas raízes e não esquecer delas, mas não se deve tentar ver tudo cor-de-rosa e dizer que antes era tudo melhor.

MDM – Na sua opinião, quais são as maiores diferenças entre o Leste e o Oeste alemão que ainda existem?

E – nós aqui da então RDA seremos sempre tratados como pessoas de segunda classe. Vai desde os salários até a exploração da infra-estrututura; em parte, as pessoas do antigo país (parte Ocidental) não sabem nada a nosso respeito; (…) ainda são necessárias no mínimo duas gerações até  que a divisão (entre as Alemanhas) seja metabolizada.

MDM – Há alguma história pessoal que você tenha vivido na RDA e que possa compartilhar com o blogue?
E – Desde muito tempo eu sempre quis ser navegador para percorrer os mares. Todos os meus pensamentos e atos foram colocados  para eu alcançar esse objetivo. Primeiro, (seria) a educação profissionalizante e depois no mínimo 3 anos no exército, de preferência na marinha, porque aí ia dar certo mais pra frente.
Quando todo o processo doloroso de enviar currículos e  fazer entrevistas  estava resolvido e eu já podia ficar contente,  foi tudo embora bem depressa.
Depois dos cerca de 3 anos de preparação, verificou-se com os responsáveis que eu tinha muitos  parentes na parte ocidental da Alemanha. Isso na RDA era como um golpe mortal para quem queria seguir esse tipo de carreira.
Mas eu superei e depois, esse indeferimento foi uma espécie de libertação para mim, porque eu pude me desenvolver em direção a onde estou hoje.

Enrico (deutsch)

Hier ein Interview mit Enrico Gwinner. Er ist in Eisenhüttenstadt (bei Frankfurt Oder) in 1966 geboren. Er arbeitet als Elektrotechniker.
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Enrico (L) als DJ in der DDR.

THE WALL MEMORIES – Was sind deine Erinnerungen an die DDR-Zeiten?

ENRICO – eine unbeschwerte sorglose Kindheit; das Leben war nicht so hektisch, alles ging langsamer, ruhiger, erhrlicher; fröhliches Jugendleben mit Kumpels, Konzerte besuchen, Campen; alle waren nicht so verklemmt und spießig wie heute; 3 Jahre in der Marine dienen; träumen von der weiten Welt; als DJ unterwegs zu sein.

 

TWM – Wo warst du am 9. November 1989? Was hast du mit deiner Familie gemacht? Was hast du gefühlt/gedacht über die Mauerfall? Hast du irgendwann bei einem Protest mitgemacht?

E – ich war zu Hause und habe zufällig die Sendung mit dem Schabowski live gesehen; wir sind am 11.11. gleich nach Westberlin gefahren; habe gedacht na mal sehen wie es in der DDR weitergeht – alles wird besser; man konnte es gar nicht glauben.

TWM – Gab es irgendwie Schwierigkeiten dich an das “neue Land” zu gewöhnen?

E – man mußte sich auf einmal um alles selber kümmern ; es passierte jeden Tag was neues, ungewohntes; die Zeit war so schnell und aufregend.
TWM – Gibt es etwas von damals, dass du vermisst?
E – Das Zusammengehöhrigkeitsgefühl.

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Enrico mit seiner Frau Simone in Schottland.

TWM – 20 Jahre nach dem Mauerfall. Was denkst du über die Wende?
E – für mich persönlich kam sie gerade rechtzeitig; sie war notwendig sonst wäre die DDR zusammengefallen wie ein Kartenhaus, wenn man heute alte Städte wie Dresden, Leipzig, Stralsund oder Bautzen sieht – die gebe es nicht mehr; ich hätte nie und nimmer mit ende 30 noch studieren können; meine große Liebe  – Schottland – hätte ich nicht kennengelernt; mich ärgern die ungerechtigkeiten gegenüber den ehemaligen DDR-Bürgern, wenn Leute aus der ALT-BRD sich anmaßen über uns zu urteilen.

 

TWM – Was denkst du über die “Ostalgie” von heutzutage?

E – es ist wichtig seine Wurzeln zu kennen und sie nicht zu vergessen, aber man sollte nicht versuchen alles in Rosarot zu sehen und zusagen damals war alles besser.
TWM – Was sind aus deiner Sicht die grössten Unterschiede zwischen Ost und Westdeutschland, die noch lebendig sind?
E – wir hier in der DDR werden immer noch behandelt wie Menschen zweiter Klasse, das fängt bei den Löhnen an und hört beim Ausbau der Infrastruktur auf; teilweise wissen die Leute, im Altland, gar nichts über uns; ändern kann man das nicht, der deutsche Charakter ist dafür nicht geschaffen; es brauch mindestens noch 2 Generationen, bis die Teilung verarbeitet ist.
TWM – Gibt es eine persönliche Geschichte in der DDR, die du damals erfahren hast?
E – So lange ich zurückdenken kann, wollte ich immer schon, als Seemann, die Meere bereisen. Mein ganzes Denken und handeln war darauf ausgelegt diese Ziel zu erreichen. Erstmal Berufsausbildung und dann mindestens 3 Jahre in die Armee, vorzugsweise Marine, weil das würde ja dann später passen.
Als dann die mühsamen Bewerbungen und Vorstellungsgespräche alle erledigt waren und ich mich schon freute, war es auch schon ganz schnell vorbei.
Nach ungefähr 3 Jahren der Vorbereitung stellte sich dann bei den Verantwortlichen heraus, dass ich doch sehr viel Verwandschaft im westlichen Teil von Deutschland hatte. Das war in der DDR ein Todesstoß für solch einen Berufswunsch.
Aber ich habe es überlebt und im Nachhinein war die Ablehnung doch eher eine Befreiung für mich, denn ich konnte mich dahin entwickeln wo ich heute bin.

 

Ute e Bernd (português)

Em decorrência dos 20 anos da queda do muro de Berlim, eu preparei  algumas entrevistas com pessoas que viveram na RDA. Elas deram suas opiniões bastante pessoais para o blogue.

Nos especiais jornalísticos que tenho visto sobre essa data histórica, muita gente se concentrou em Berlim – não sem razão. Mas eu quis fugir um pouco disso, já que a RDA ia mais além da Berlim Oriental.

Essa mudança de rumos chamada em alemão de Wende, é um tema que vai continuar sendo discutido. E eu fico muito feliz em trazer a vocês, leitores e visitantes do Memórias do Muro, as opiniões das testemunhas da História.

Ute & Bernd 2009

Ute und Bernd O., 2009. Foto: arquivo pessoal

Aqui segue uma entrevista que fiz por e-mail com Ute e Bernd O. Os dois nasceram na cidade de Erfurt, capital do estado da Turíngia. Ela tem 45 anos e é auxiliar de enfermagem. Ele tem 54 anos e é vendedor.

MEMÓRIAS DO MURO – Quais são as lembranças de vocês dos tempos da RDA?

BERND – aspectos positivos: Jardins de infância e localização das escolas;  Espírito de coletividade, família e escolas; Jogos e colônias de férias; muitas atividades sociais; Jogos mundias da juventudo em Berlim; Associações de Futebol a partir de 7 anos de idade até a escola de esportes; formação de ensino à distância em economia de processamento de  dados, entre outras coisas.

UTE – aspectos positivos: Escola, ocupações durante o tempo livre, aulas até o oitavo ano escolar.

UTE e BERND – Aspectos negativos: poucas frutas; muitas restrições para viagens; muitos órgãos controladores; o chefe sabia quase tudo sobre a vida profissional e privada da família (dos trabalhadores); ordem das decisões a serem tomadas; registro para obter um carro; se alguém quisesse alcançar um objetivo privado, algumas condições eram  impostas, por exemplo adesão ao partido político.

MDM – Onde estavam em 09 de novembro de 1989? Chegaram a celebrar? O que pensaram e sentiram sobre a queda do muro? Participaram de algum protesto contra a RDA?

UTE e BERND – Nós estávamos em casa, já que a nossa filha só tinha 15 meses de idade. Nós vimos todos celebrarem e sentimos uma sensação estranha. Pensamos se aquilo não seria bom!? (…) Uma vez nós fomos a uma marcha silenciosa e caminhamos por algum tempo com as pessoas. Era uma atmosfesra tensa, que poderia mudar de rumos a qualquer momento. Com esposa e carrinho de bebê era muito arriscado (fazer parte de protestos).

MDM – Vocês tiveram dificuldades em se acostumar ao “novo país”?

UTE e BERND – A permanente conversão dos preços de uma moeda para outra; as situações de empresa, moradia, trabalho, tempo livre, compras e a incerteza constante se a família iria seguir bem: todos esses fatores provocaram certo estresse. Era necessário controlar as coisas muito rapidamente. Nós podemos dizer que ambos conseguimos encontrar rapidamente um novo trabalho em outras empresas. A movimentação autônoma na sociedade, seja no socialismo ou no capitalismo, não foi difícil para nós.

MDM – Há algo daquela época de que vocês sintam falta?

UTE e BERND – Sim, nós sentimos falta da vida comum em sociedade com amigos e conhecidos. Agora todos são criados de maneira muito egoísta  e são forçados a agir dessa forma. O Estado RDA pensava mais na sociedade.

MDM – 20 anos depois da queda do muro de Berlim. O que vocês pensam sobre a transição?

UTE e BERND – O sistema socialista/comunista se equipara, de alguma maneira, ao capitalismo. A política é idêntica; o homem pequeno será explorado e oprimido. E há também uma liberdade controlada. A transição trouxe a liberdade para fazer viagens, mas somente se você tem os recursos financeiros para isso. A pobreza e o desemprego crescem continuamente.

Ao Estado interessa apenas a própria segurança financeira e há menos interesse nos indivíduos da sociedade. O Estado de hoje não tem leis claras e concretas, mas somente aquelas que podem ser transformadas para que o Estado permaneça em vantagem.

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Museu “Olle DDR” em Auerstedt, na Turíngia.

MDM – O que você pensa sobre a “Ostalgia” dos dias atuais (Ostalgie é um termo em alemão utilizado na antiga região da RDA  e que significa ‘nostalgia do leste’)?

BERND – Eu promovo a Ostalgia. Todos os meus objetos especiais da então RDA estão em um museu na cidade de Auerstedt (no estado da Turíngia). Lá estão certificados de condecorações pessoais, flâmulas esportivas, uma câmera fotográfica antiga, um telefone, rádio, chaleira, geladeira, cômoda, artigos de escritório e outras coisas mais.

MDM – Na opinião de vocês, quais são as maiores diferenças entre o Leste e o Oeste alemão que ainda existem?

UTE e BERND – uma pessoa do Oeste nunca vai deixar de pensar à maneira ocidental. Uma pessoa do Leste pensa de um jeito mais alemão, já que em muitos casos essa pessoa trabalha para uma empresa do Oeste e continua morando no Leste.

Uma pessoa do Oeste não pode entender a sociedade da RDA, já que ela não sabe a verdade. (…) Com relação aos pagamentos ainda há em muitos setores, salários diferentes para o mesmo trabalho. Para o Oeste sempre haverá uma pessoa do Leste e uma Alemanha Oriental, já que eles se  visualizam sempre como vitoriosos e donos do dinheiro.

MDM – Há alguma história pessoal que você tenha vivido na RDA e que possa compartilhar com o blogue?

BERND – Nos meus dossiês* havia uma cópia de uma carta que enviei a um amigo meu, que havia deixado a RDA de maneira ilegal antes de 1989.

À época vieram até mim uns funcionários da STASI e me perguntaram sobre a fuga do meu amigo da RDA. Ele precisou ficar por alguns meses na cadeia até que a sua solicitação de viagem saísse.

Quando ele chegou na RFA, me escreveu uma carta contando onde estava e o que andava fazendo. ´Toda essa correspondência foi copiada pela STASI e colocada nos meus dossiês.

Atualmente esse amigo e eu nos encontramos a cada dois anos e conversamos sobre os velhos tempos.

*Nota da autora: após a unificação das Alemanhas, os arquivos da Polícia Secreta da Alemanha Oriental, STASI, foram abertos ao público. Muitas pessoas descobriram que eram espionadas através do acesso aos seus dossiês pessoais. Nas próximas semanas, aqui no blogue, uma entrevista exclusiva com uma pessoa contando sua experiência com a STASI.

Ute und Bernd (deutsch)

Aus Anlass des 20. Jahrestages des Mauerfalls habe ich ein paar Interviews mit Menschen, die in der DDR gelebt haben, vorbereitet. Es sind Leute, die ihre ganz persönlichen Meinungen für meinen Blog gegeben haben.

Die Wende ist ja ein Thema, das weiter diskutiert wird. Und ich freue mich, euch die Gedanken der Zeitzeugen zu bringen.

Ute & Bernd 2009

Ute und Bernd O., 2009.

Hier ein Interview mit Ute und Bernd O. Beide sind in Erfurt geboren. Sie ist 45 Jahre alt und Pflegehelferin. Er ist 54 Jahre alt und Kaufmann.

THE WALL MEMORIES – Was sind eure Erinnerungen an die DDR-Zeiten?

BERND – gut: Kindergarten und Schulhort, Zusammenspiel Elternhaus und Schule, Ferienspiele, Ferienlager, viele gesellschaftliche Veranstaltungen, Schulsport, Schul-Sport-Spartakiade, Weltfestspiele der Jugend in Berlin, Fußball im Verein ab dem 7. Lebensjahr bis zur Sportschule und DDR-Fußballschiedsrichter der 2.Liga, Ausbildung zum Ökonom für EDV im Fernstudium, u. a.

UTE – Gut: Schule, Freizeitbeschäftigung, Schulklassen bis zum 8.Schuljahr.

UTE und BERND – Schlecht: wenig Obst, viele Einschränkungen bei Reisen, viele Kontrollorgane, der Personalchef wußte fast alles Dienstliche und Private  von der Familie, Diktieren einer Entscheidung, Autoanmeldung. Wollte man ein privates Ziel erreichen wurden Bedingungen gestellt (Parteizugehörigkeit).

TWM – Wo wart ihr am 9. November 1989? Was habt ihr mit eurer Familie gemacht? Habt ihr gefeiert? Was habt ihr gefühlt/gedacht über den Mauerfall? Habt ihr irgendwann bei einem Protest mitgemacht?

UTE und BERND – Wir waren zu Hause, da unser Kind erst 15 Monate alt war. Mit einem komischen Gefühl haben wir sie alle feiern gesehen und gedacht, ob das nicht mal gut geht !? (…) Wir sind nur einmal in einem Schweigemarsch hineingekommen, etwas mitgelaufen. Es war eine gespannte Stimmung, die hätte jeden Moment umschlagen können. Mit Frau und Kinderwagen war es ein Risiko.

TWM – Gab es irgendwie Schwierigkeiten euch an das “neue Land” zu gewöhnen?

UTE und BERND – Das ständige Umdenken mit der Währung, der Situationen im Betrieb, Wohnung, Arbeit, Freizeit, Einkauf und die ständige Ungewissheit, ob es der Familie weiterhin so gut geht, machte schon einen gewissen Streß. Man mußte sehr schnell die Dinge selber in die Hand nehmen und regeln. Wir können sagen, dass wir es beide schnell geschafft haben, in anderen Betrieben eine neue Arbeit zu erlangen. Das selbständige Bewegen in der Gesellschaft, ob Sozialismus oder Kapitalismus, fiel uns nicht schwer.

TWM –  Gibt es etwas von damals, dass ihr vermisst?

UTE und BERND – Ja, wir vermissen das gesellschaftliche Zusammenleben mit Freunden und Bekannten. Jetzt sind alle zu Egoisten erzogen und werden gezwungen auch so zu handeln. Der Staat DDR hat sich da mehr Gedanken um die Gesellschaft gemacht.

TWM – 20 Jahre nach dem Mauerfall. Was denkt ihr über die Wende?

UTE und BERND – Das System Sozialismus/Kommunismus gleicht doch irgendwie dem Kapitalismus. Die Politik ist identisch; der kleine Mann wird ausgebeutet und unterdrückt. Auch findet eine kontrollierende Freiheit statt. Die Wende hat die Reisefreiheit gebracht, aber nur, wenn Du finanzielle Mittel hast. Die Armut und die Arbeitslosigkeit steigt ständig.

Dem Staat interessiert nur die eigene finanzielle Sicherheit, weniger die Einzelpersonen in der Gesellschaft. Der heutige Staat hat keine klaren, eindeutigen Gesetze, sondern nur solche, die er drehen und wenden kann, damit er immer im Vorteil bleibt.

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Museumsbaracke "Olle DDR"

TWM – Was denkst du über die “Ostalgie” von heutzutage?

BERND – Ich fördere die Ostalgie. Meine sämtlichen besonderen Gegenstände der damaligen DDR befinden sich in einem Museum in Auerstedt bei Bad Sulza. Dort befinden sich Urkunden von persönlichen Auszeichnungen, Sport-Wimpel, ein alter Fotoapparat, Telefon, Radio, Wasserkocher, Kühlschrank, Komode, Schreibwaren und vieles mehr.

TWM – Was sind aus eurer Sicht die grössten Unterschiede zwischen Ost und Westdeutschland, die noch lebendig sind? Wie kann man das ändern?

UTE und BERND – Ein West-Mensch wird niemals aufhören westlich zu denken. Ein Ost-Mensch denkt aber schon Gesamt-Deutsch, da er zum größten Teil für eine westliche Firma arbeitet und in Ost-Deutschland weiter wohnt. Ein West-Mensch kann die Gesellschaft der DDR nicht verstehen, da er nie darüber die Wahrheit erfahren hat. Ich sage mal, sie kannten die DDR nur aus der BILD-Zeitung !!! (…)

Das Allgemein-Wissen eines Ost-Deutschen ist besser, da die schulische Ausbildung sehr gut war. Die Schieflage kann eigentlich nur der Staat selber in Ordnung bringen, in dem er gesamtdeutsche Aussagen macht und nicht immer wieder durch Gesetze Ost-West Unterschiede beschreibt.

Bei der Lohnzahlung wird in vielen Bereichen noch unterschiedlicher Lohn für gleiche Arbeit gezahlt. Es wird immer ein Ost-Mensch und ein OST-Deutschland für den WESTEN geben, da sie sich immer als Sieger und Geldgeber darstellen.

TWM – Gibt es eine persönliche Geschichte in der DDR, die du damals erfahren hast und mit uns teilen kannst?

BERND – In meiner Akte war eine Kopie eines Briefes an meinen Freund, der vor 1989 die DDR auf illegale Weise verlassen hatte.

Damals kamen Angehörige der Staatssicherheit und stellten mir Fragen über die Flucht meines Freundes aus der DDR. Er mußte damals für mehrere Monate ins Gefängnis bis der Ausreiseantrag gestellt war. Als er in der BRD angekommen war, schrieb er mir in einem Brief, wo er sich befindet und was er jetzt macht. Dieser Brief wurde von der Staatssicherheit kopiert und in meine Akte gelegt. Wir treffen uns jetzt alle zwei Jahre und reden über alte Zeiten.

Revelações de Bial

Assim que comecei a fazer esse blog em meados de setembro, quis escrever sobre minhas lembranças infantis relacionadas ao episódio da queda do muro de Berlim.

Relatei AQUI NESSE POST sobre a imagem até hoje guardada nos recôncavos da minha memória. Mas estou atordoada ao descobrir por um testemunho do próprio, que ele NÃO esteve fazendo uma matéria direto do muro de Berlim naquele histórico 9 de novembro de 89.

De quem estou falando? De Pedro Bial, ora. Agora seja sincero e confesse: você também achou que ele esteve no muro, não?

Pois bem, todos deliramos coletivamente porque o Sr. Bial atesta veementemente: não estava sequer na Alemanha quando o paredão desmoronou. Duvida? Então olha aqui o depoimento dele no especial sobre os 20 anos da queda do muro de Berlim do jornal O Globo.

Tiago de Aragão no Mosaico de Memórias

Tiago de Aragão mandou a sua memória pra cá e aqui vai ela:

Muro de Berlim e Pedro Bial. Ou seria: Pedro Bial e o Muro de Berlim. Seis aninhos.

As imagens que remonto dali se limitam a alguns flashs visuais (sim, eu acredito que existam outros flashes sensoriais). Mas sempre foi assim. Pedro Bial, postado em frente ao muro. Bela entonação de voz. Eu tinha outra imagem dele antes do BBB. Não que eu já não o encarasse como um fanfarrão. Foi a primeira notícia que recebi que parecia impactar o mundo.

A morte de Chacrinha eu também lembro, mas essa parecia impactar menos o cenário internacional (ou seja lá como eu chamava isso aos seis anos). Dali, 1989, minha outra memória televisiva foi o gol de Caniggia (passe de Maradona) que desclassificaria o Brasil da copa de 90. Ah, nesse momento eu tava na rua. Mas é curioso, me lembro perfeitamente, como se tivesse visto ao vivo.

Será que eu vi o Bial e o Muro de Berlim ao vivo? Será que eu vi mesmo em 1989? Peças pregadas por uma edição deslinear da memória.

Sarina Sena e os fragmentos do muro de Berlim

Eu já confidenciei aqui há alguns dias, que a queda do muro de Berlim e Pedro Bial estão absolutamente entrelaçados na minha memória infantil.  Curiosa que sou, gostaria muito de saber como  esse episódio está guardado nas lembranças de outras pessoas.

A jornalista, produtora de moda e minha amiga Sarina Sena, do blog Fashion Again, foi uma das primeiras a me incentivar e a comentar aqui. E-mail vai, e-mail vem, ela me confidenciou fragmentos de uma estória que achei bem interessante. Daí pedi que ela escrevesse um pouco mais sobre o tema e o resultado está aí embaixo, inaugurando aqui uma seção exclusiva chamada Mosaico de Memórias.

E você, o que lembra do episódio da queda do muro de Berlim? Onde estava e como se sentiu com a notícia? Mande um e-mail ou deixe a sua estória nos comentários que eu a publicarei aqui. Comentários não assinados serão desconsiderados.

Fragmentos do muro de Berlim Por Sarina Sena

Sarina Sena, jornalista e produtora de moda.

Sarina Sena, jornalista e produtora de moda.

Ver pela TV a queda do muro de Berlim foi algo que ficou gravado em minha memória. Eu era criança ainda, tinha nove anos, mas este fato está na mesma categoria da memória que guarda outros fatos históricos vistos pela telinha da TV, como a morte de Tancredo Neves, o estudante se jogando na frente do tanque na China e a explosão das Torres Gêmeas.

A imagem da alegria daquelas pessoas com marretas ajudando a destruir aquele muro que representou anos de privações, principalmente da liberdade, foi algo inesquecível. Em meio às matérias, sempre passavam umas entrevistas com pessoas que ficaram com as famílias divididas, assim como Berlim, por causa do muro. Ficava imaginando o fim da agonia daqueles que passaram tanto tempo incomunicáveis.

Nesta época, meu pai tinha uma locadora de vídeo. Com uma certa frequência, recebíamos a visita de representantes de distribuidoras de filmes com os seus catálogos, que eram, na verdade, pastas no estilo daquelas que a gente colecionava papel de carta com o impresso da capa e da sinopse de cada filme que estaria na locadora cerca de um mês depois de feito o pedido.

Pois bem, algo como um ano após a queda do muro de Berlim, um desses representantes tinha em seu catálogo um filme sobre este momento histórico que trazia (acreditem!) fragmentos do muro para quem alugasse a fita levar para casa como souvenir. Isso mesmo: alugue o filme e leve um pedaço de muro grátis!

Pena que não lembro nem o nome do filme e nem de qual distribuidora pertencia, mas lembro bem de ter achado um tanto absurdo aquela história e de ter duvidado da veracidade daqueles “fragmentos do muro de Berlim”.

Pedro Bial e o muro de Berlim: só na minha memória?

Pedro Bial em 1991. Fonte: Revista Istoé Gente

Pedro Bial em 1991. Fonte: Revista Istoé Gente

Em novembro de 1989 eu era uma garota de 11 anos (entreguei a minha idade!). Havia me mudado fazia pouco mais de dois anos para Natal e morria de saudades de Belém, da minha família, dos amiguinhos da escola, do sorvete de açaí com tapioca da Cairu numa esquina perto de casa.

Puxando a memória, lembro do episódio do muro de Berlim com uma imagem: Pedro Bial (sim, ele mesmo!) falava na TV direto do muro e dizia, emocionado, que aquele era um momento histórico. Se minhas lembranças não me trapaceiam, ele até estava em cima do muro (sem trocadilhos, por favor) e falava alto e forte por causa da gritaria da multidão ensandecida, celebrando ao seu redor.

Pesquisando na internet, no entanto, achei um vídeo da própria Globo, não com Pedro Bial, mas com o repórter Silio Boccanera falando sobre as mudanças na então Alemanha Oriental (VÍDEO AQUI). Me pergunto: será que só eu lembro do Pedro Bial na época do muro de Berlim?

Na minha memória infantil, foi ele o repórter intrépido que participou dessa cobertura. Infelizmente, não achei vídeos sobre esse momento “Bial”. Se alguém tiver ou achar algum link, por favor avise que eu coloco aqui!

Independente dessa confusão de memórias, deixo algumas perguntas a quem queira se manifestar: o que você lembra do episódio da queda do muro de Berlim? Onde estava, o que fazia, como se sentiu? Os relatos que chegarem até mim serão publicados no Memórias do Muro na categoria Mosaico de Memórias. Valendo!

ATUALIZAÇÃO de 06 de novembro de 2009: Um outro post sobre o assunto, onde o próprio Bial revela o mistério. CLICA AQUI.