Registros de uma época em "Behauptung des Raums". Foto: divulgação
Há uma semana, assisti a um documentário interessante que me mostrou uma face da contracultura na RDA, ainda desconhecida pra mim. Behauptung des Raums do diretor Claus Löser (co-direção de Jakobine Motz), mostra jovens artistas que queriam produzir sua arte de maneira independente dentro da ditadura socialista da Alemanha Oriental.
Até aí, nada de muito novo. Porém, o forte do filme é a compilação de um rico material de arquivo que nos transporta à atmosfera de inquietude artística em plena RDA. Com a potência trazida por registros subjetivos, o filme é antes de tudo, um documento de uma época.
O próprio título já mostra em que caminho vai o filme. A tradução seria algo como “afirmação do espaço”. A mensagem central fica clara até mesmo para alguém como eu ou você, estrangeiros se aventurando pela História alheia: artistas criam espaços (físicos e ideológicos) para expor sua arte. Cavam um lugar que lhes é de direito. Apesar das dificuldades. E até usam as proibições do Estado como mola propulsora para suas criações.
Costurado com depoimentos atuais e imagens em super-8 ou VHS coletadas na RDA, o documentário nos mostra como vários artistas de Berlim Oriental, Leipzig e Karlmaxstadt (hoje Chemnitz) se reuniram, produziram sua arte e se posicionaram contra o establishment. Havia sempre alguém registrando as exposições, performances e discursos, sem saber que isso no futuro renderia uma reflexão sobre aquele país que já não mais existe.
Artistas da RDA a pleno vapor. Foto: divulgação
Logo de cara, me chamou a atenção que os personagens fossem praticamente só homens. Tá, teve uma mulher que relatou a sua experiência, mas convenhamos que 10 minutos em um filme que dura 80, não é lá uma grande representação.
Por sorte, fui a uma sessão com a presença dos realizadores e após o filme, houve um pequeno debate. O diretor justificou a pouca presença feminina dizendo que muitas artistas da época não documentaram suas ações em foto ou vídeo. Além do que, ele já tinha contato com os artistas que aparecem no filme e colocar mulheres que não tivessem a ver com esse movimento só para ter mais representação feminina, não lhe pareceu uma boa ideia.
Saí do debate bastante irritada porque a moça que deveria ser mediadora entre diretores e público, quis ser provocadora (nada contra) e começou a questionar de maneira bem arrogante, que tipo de informação concreta o filme deixaria para as futuras gerações que não vivenciaram a RDA. Resposta do diretor: o objetivo do filme não é ser didático. Se alguém precisar de informações históricas, vai encontrar vasto material específico sobre essa época em diversas outras fontes.
Concordo com isso. A maneira espontânea com que os materias de arquivo foram gravados não é informativa, mas provoca emoções em quem assiste e transporta a plateia intuitivamente para aquela época. Independente se o espectador é PhD em História da Alemanha Oriental ou se não sabe nada sobre o assunto. Filmes também são feitos para suscitar emoções e não apenas para informar.
Apesar de o tema ser interessante, confesso que ao invés de 80, o documentário poderia ter apenas uns 60 minutos. Teria dado o recado sem cansar. Mas isso não chega a comprometer a minha avaliação final. Gostei muito de ter viajado no tempo com a História sendo contada e documentada por quem a viveu.
Infelizmente ainda não há um trailer online.